19 de outubro de 2011

cabana



Obrigada pela noite e pelas bailarinas, mais uma vez. Ontem achei-te mais feliz, cantaste-me enquanto me levavas para casa, e eu cumpri o prometido, aguentando as pálpebras só para te poder ouvir. Obrigada por segurares a minha mão. Ajudas-me a seguir, como se o meu rumo estivesse perdido nos teus dedos, enrolados nos meus a toda a hora.
Sinto-me uma criança, tão pequena e inocente. Tão leve, como tu. Obrigada por teres ficado, por me ensinares a andar direita e a dormir quieta. Pelo gelado a meio da noite e pelas gargalhadas no meio das lágrimas. Por me cantares ao ouvido e não quereres saber do meu ar mal disposto durante o sono. 
Tens guardado bem o meu coração e tenho sempre tanto medo que me percas. Eu não quero ficar sem ti, não quero que me leves o coração para longe, mas também não o quero sem ti lá dentro. Não preciso que te vás embora e podemos levar a nossa cabana para qualquer lado, desde que isso não te impeça de me levares a ver as bailarinas. Quero que fiques comigo mesmo quando eu não quiser ficar contigo, mesmo quando eu for teimosa e um pouco mais velha, quando as rugas das minhas mãos existirem só para completar as tuas, e as minhas tardes se resumirem à ternura dos filhos e às aventuras dos netos.
E nunca percas esse hábito cavalheiresco de me afagares o cabelo, de me sentares ao teu colo e de me deixares adormecer enquanto falas. Nunca deixes de ser um príncipe e deixa-me rodopiar no aconchego dos teus braços à volta da minha cintura, com a inquestionável certeza de que será para sempre.