1 de junho de 2011

melodia

A melodia forte da tua viola suava aos meus ouvidos, ia jurar que podia ver-te ali à minha frente, no auge da tua concentração, enquanto cantarolavas para ti as notas que deverias fazer soar.
Olhavas-me nos olhos, fazias um sorriso tímido e prosseguias com a tua música, que me embalava os sonhos, enquanto - perto de ti - fechava os olhos e me deixava levar.
Eras um ser extremamente bonito, de olhos claros.  Podia sonhar contigo todas as noites sem nunca me sentir exausta, sem nunca me fartar da tua cara de menino - tão doce.
Acordei. Já passa da meia noite e a melodia volta a invadir o quarto, tal como no sonho. Procurei-te muitas vezes a seguir aos sucessivos sonhos que tinha contigo,  mas hoje vou deixar-me ficar. Eu sei que não vais estar lá fora a tocar para mim e que esta melodia melancólica se baseia nas saudades doidas que tenho de te ver, de te ouvir. Mas sempre me atrevi a sair desta cama vazia e procurar-te pela casa, acabando derrubada pelas minhas esperanças (vãs).
Senti que não devia ir procurar-te, que esta cama por mais vazia que fosse não seria preenchida se me levantasse e te encontrasse ao fundo do corredor , com a tua (eterna) viola às costas.
Porque o que é realmente nosso, não desaparece depois do sonho , mantém-se intacto para toda a vida, ao nosso lado. E assim, tu nunca foste meu.
Partiste embalado na tua triste melodia, em busca de uma nova pauta onde pudesses assentar os teus pés, o teu mundo. Deixas-te em mim apenas esse conjunto de notas que consigo ouvir todas as manhãs , sempre que desperto e me amarro com todas as forças à (nossa) cama  para que o meu coração não siga a tua viola e me salte do peito, para nunca mais voltar.