1 de setembro de 2011

inconvenientes



É a dor, a culpa, a revolta. São os muitos dias, os poucos momentos e as vastas esperanças. A mesma música, as lágrimas cansadas de correr, mesmo quando não encharcam o rosto mas a alma. Os problemas, o bicho inquieto dentro do cérebro, o martelo no coração, a inconveniente memória que se prolonga até ao presente, acabando com mundo e com a nossa casa, aquela onde supostamente estaríamos seguros.
É este cansaço permanente, o massacre que é o passar das horas que só voam quando para proveito próprio. As poucas razões para continuar a viver quando ainda vivemos tão pouco, o mau contentamento com a imensidão em mãos, os inúmeros compinchas que se revelam verdadeiras fraudes.
A vida essa que se revela em pequenos gestos, poucas palavras e grandes pessoas; aquela a quem renegamos tanta vez o caminho adiante que nos obriga a seguir, teimosos pela própria natureza.
Todos os dias somamos aos dias mais um número infindável de segundos que até à poucos minutos pareciam impossíveis de ultrapassar. Quer com afinco e garra, quer imersos na tristeza subtil de quem só quer viver, lá estamos nós, com um lugar garantido num futuro que só a nós pertence, escrito com as nossas mãos e com as nossas lágrimas, repleto dos sorrisos dos nossos, e dos nossos sorrisos.
E não vale a pena deixar de viver em vida. Ninguém escolhe viver, vive-se e pronto.