14 de setembro de 2011

o fim


Vai demorar até se me secarem as lágrimas, até que deixe de doer como dói, como uma ferida incurável em aberto. Perdi a identidade, deixei de acreditar em mim e breves segundos transformaram todo o meu cómodo chão num terramoto imparável.
Passei a vida acreditar nos outros, para que o resto pudesse fazer sentido, para que o tempo e as pessoas não se tornassem banais e usados, para poder descobrir em cada olhar um novo amanhã. Mas errei, quis acreditar e fiz asneira, caí na esparrela novamente, e sinto a culpa vazia de não ter feito tudo para deixar o mundo para trás, para te deixar para trás.
Tenho agora o medo de que o pesadelo não acabe, que não me puxes para o teu peito para me fazeres acordar e me prometeres que o tormento houvera finado. O medo constante de acordar com a percepção desta realidade que quiseste para nós, como um destino imposto. A verdade é dura, a verdade é clara e não tem dó, mas teria sido, para ti e para mim, muito mais justa.
Mas não digas mais nada, deixa-me digerir a dor lentamente como o pior dos venenos, para só depois depositares sobre o meu coração inerte essas tuas palavras que já não me aquecem. Deixa-me no meu canto, chorar até ficar sem lágrimas, para no fim me embrulhar no futuro e seguir em frente. Como sempre fiz, como já devia ter feito.