19 de junho de 2011

auto retrato


Sou um relógio corrente, um tecido macio, um som acústico. Sou o cruzar de uma linha branca com uma linha preta. Sou uma bolha de sabão, uma gota de água, uma ideia complexa. Gosto de carinhos, de atenção, de sinceridade, regularidade e variedade de acções. Idolatro palavras, guitarras e máquinas fotográficas antigas. Sou demasiado emotiva; demasiado utópica; demasiado permanente, consciente e inconsciente. Às vezes sinto que sou uma linha curva sem destino que se endireita muito lentamente. Outras vezes, porém, sinto que sou apenas um ponto pequenino na sociedade e que nada me irá compreender. Imagino ser como uma borboleta colorida, poder voar e viver com calmaria e sem censura. Sonho em demasia; acredito facilmente nas pessoas. Sonho, principalmente, à janela a observar a lua, as luzes da noite e as nuvens que sobrevoam este céu que tanto me convence de que todos podemos ser livres. A ironia e o sarcasmo são muito meus amigos. Isolo-me muitas vezes porque sinto, acima de todos, que ninguém sente como eu. Contudo, gosto de pessoas idênticas a mim. Não suporto pessoas que não preencham os meus requisitos principais tendo, obviamente, limites lógicos e coerentes nos meus requisitos. Marco-me com um frasco cheio de doces, um cubo de gelo, uma fita azul ou um vestido branco. Gosto de literatura portuguesa, ouço acústico e vejo filmes românticos. Gosto de sentir aromas e de os identificar com o que me vier à memoria no momento. Prezo as figuras célebres da história e delicio-me com muitas das suas citações e opiniões. Prefiro a lealdade ao mediático "para sempre" que se ouve com frequência mas que escassas são as vezes em que se faz cumprir. Ajo a favor dos meus ideais fixos e poucas são as vezes que deixo a minha personalidade de lado; aliás, a personalidade é algo que se faz notar em mim com toda a força existente. Gosto de sentir a brisa fresca sobre a minha face; orgulho-me de todos os sorrisos que proporciono e envergonho-me de cada acto menos adequado. Tenho dias em que deixo o coração na cama e me levanto sem ele; porém, tenho outros (dias) em que, inconscientemente, deixo apenas o meu coração fazer a minha rotina e eu fico a dormir horas ilimitadas sem saber como reagir sem coração. Defino-me como um “nada que tem tudo em si”, talvez. 
Escrever preenche-me os buracos vazios que esta sociedade me cria.