8 de junho de 2011

berlinde


És um miúdo em pêras, tens um coração enorme e o mundo inteiro consegue gostar de ti. Nunca serás um homem daquelas com H grande, porque nos genes da tua aprendizagem há uma informação que não consegues negar, algo que te controla os membros e os sentimentos, uma vontade inconveniente de ser criança, de brincar com os corações como quem joga ao berlinde, chutar a vida para um canto e adormecer de cansaço numa praia qualquer.
Não te condeno, sabes. Usufruis de uma existência eternamente mais leve com a minha e consegues sempre sorrir, enquanto o mundo inteiro à tua volta está a desabar. Nunca amaste e isso faz de ti a pessoa ingénua que és hoje; nunca sentiste na pele nem nos ossos, as pontadas certeiras de um amor não correspondido, já mais te passou pelo esqueleto o arrepio furtivo de uma paixão avassaladora, cheia de espinhos e afins, que não és capaz de ignorar.
Tens escapado ao cupido, e um dia deixo que me contes onde te escondes sempre que ele te procura, desesperado por te cravar no peito um coração de papel e umas quantas ilusões, indispensáveis à vida monótona destes mortais.
Mas mesmo assim, perdoa-me se não quero ser como tu, se prefiro a dor ao vazio e a paixão ao comodismo. É lamentável, mas quando te amei, senti-me completa por conseguir usar o coração e tive sempre pena de ti, quando te lançavas numa busca sem frutos, à procura do teu.